quinta-feira, 30 de julho de 2009

artista da periferia se apresenta em boate da zona sul - é chique gostar... da boate


quando ser do povo pode ser chique, o mundo emergente cai matando. é chique, por exemplo, prestigiar MV Bill, músico negro, suburbano, famoso, que vem a belo horizonte lançar seu primeiro dvd, "despacho urbano".

mv bill fez um trabalho maravilhoso em "falcão - meninos do tráfico", documentário produzido pelo próprio rapper, que toma depoimentos de adolescentes que respiraram (por pouco tempo) o tráfico de droga no rio de janeiro.

pra quem gostaria de prestigiar o lançamento do dvd do bom moço da periferia mas desanimou por imaginar que o evento aconteceria num campo de futebol de terra, onde em outras datas instalara-se um circo, lá pelas bandas de lá da cidade... nã-nã-nin-nã-não. o shou acontece hoje à noite, e tomando apenas um ônibus, descendo em lugar claro e arejado, pagando pela simbólica quantia de r$ 40,00 (quarenta reais. quanto custa uma cesta básica?) a entrada, você também pode juntar sua voz a do rapper da periferia. a casa que recebe mv bill é a roxy (na mesma boate, em dias alternados, funciona a "josefine", a boate (gls. perdoe-me os ativistas, mas acho que nem se usa mais esse termo né...) mais fina do complexo "savassiano".
fachada da "roxy" - foto de erika palomino. atenção para o "glamour" da rampa de subida.

eu ainda não ouvi (e nem assisti) ao dvd, mas um amigo diz que fazem uma parada bacana de violino com rap. estou curioso pra conhecer.

ao que me parece, mv bill tem algumas peculiaridades. um de seus grandes parceiros toca numa orquestra e isso torna sua música um pouco "erudita", sem deixar de forma alguma de ser rap, claro. imagina que colocaram violino no rap? deve ter ficado muito bom.

notícia boa: o dvd pode ser comprado pelo site www.mvbill.com.br por apenas r$ 5,00. porém, quando a esmola é demais, pode chamar o santo pra bater um papinho. incoerência total. músico da periferia, projeto bacana, idéia bacana, dvd a r$ 5,00, casamento da música erudita com rap, tudo perfeito, mas... numa boatizinha chique da zona sul?

bom, segue uma breve historinha de mv bill. os créditos do texto abaixo são da "redação estado de minas - cultura". depois de lerem o texto, me digam se por acaso mv bill não estaria cantando no galinheiro errado. imagino quantos cds de r$ 5,00 ele venderá na roxy...

pura decepção. esperávamos encontrá-lo "depois da contorno". queria que aqui em belo horizonte, mv bill falasse diretamente à periferia, como faz no rio. foi lá que o conheci e pelo trabalho que ele realiza lá é que me tornei fã dele. aqui ele é só mais um "pop".

serviço: (claro que eu não vou) Festa Hip hop de luxe. Roxy, Rua Antônio de Albuquerque, 729, Savassi, (31) 3269-4410. Quarta-feira, a partir das 22h. Com DJs Xeréu e Fred. R$ 40 (masc) e R$ 25 (fem).


Alex Pereira Barbosa, de 35 anos, é um moço de coragem. Nasceu e mora na Cidade de Deus, a comunidade pobre da Zona Oeste do Rio de Janeiro imortalizada no cinema pelo diretor Fernando Meirelles, e sempre se inspirou no drama dos jovens favelados para compor. MV significa mensageiro da verdade, apelido que ele ganhou de senhoras evangélicas, admiradas em vê-lo usando o rap como instrumento de conscientização.

Em 1998, lançou o disco Traficando informação, com letras indignadas sobre os efeitos da desigualdade social sobre os jovens. Causou polêmica no Free Jazz Festival ao levar revólver para o palco e, assim, expor a violência brasileira. Em 2000, com o videoclipe Soldado do morro, retratou in loco o cotidiano de 14 favelas, com seus meninos marcados para morrer. O minidocumentário musical rendeu-lhe problemas com autoridades, que o acusaram de fazer apologia do crime. Premiado, o clipe dirigido por Celso Athaíde e Roberto de Oliveira extrapolou o universo da MTV, foi discutido em salas de aula, gabinetes e organizações não governamentais (ONGs). Ameaçado de prisão por aqui, Bill foi convidado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para ocupar o cargo de embaixador para assuntos que envolvem crianças em situações de guerra.

Diferentemente de colegas rappers de cara amarrada, MV Bill usa seu potencial midiático em favor das causas que defende. Criou a ONG Central Única das Favelas (Cufa), que estimula projetos culturais a partir de comunidades pobres, escreveu livros denunciando o massacre de jovens das favelas. Cabeça de porco, parceria de Bill com Celso Athayde e Luiz Eduardo Soares, mostra a trajetória das crianças aliciadas por narcotraficantes no Brasil. O documentário Falcão – Meninos do tráfico, exibido no programa Fantástico, mostrou cenas que chocaram o mundo. Outro livro dele foi dedicado a mulheres ligadas à venda de drogas.

Cantar e militar não são atividades antagônicas. Bill conta que, na verdade, elas se complementam – uma inspira a outra. O carioca tem agenda repleta de compromissos em escolas, ONGs, batalhões de polícia e associações comunitárias para defender a tese de que o Brasil não terá futuro se continuar permitindo o massacre de seus jovens cidadãos. Há três anos ele não canta em BH, mas já perdeu as contas de quantas vezes veio a Minas fazer palestras e conversar com a garotada. “Já sou mineiro honorário”, brinca ele.

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